domingo, 27 de dezembro de 2009

Adoração

Sagrada, Maria nossa, cristalina!
Treva azul, etéreo manto, o gelo
Que te envolve e nos domina.
Esperança, noção feminina,
Em que te cremos o tanto encanto,
Alto e divino o teu zelo.

Não bastasse querê-lo tocar,
Consumir essa materialização de apelo,
Somos ainda a vontade da acção sem fim,
Sem destino ou necessária realidade.
Clamamos! Sereníssima Rainha,
Um vocativo tão maior que nós,

Porque nas estrelas do teu manto
Somos o propósito desses pós,
Fecundos na Caridade dos teus olhos.

Viveremos suspensos sobre o eterno,
Na efemeridade dos segundos,
Do lirismo e da rima prosada,
Porque nos perece à nascença a palavra
Muda que é aos teus sentidos.
E secando-nos as lágrimas e os rios,
Apodrecendo a terra sob sanguíneas marés,
Jazigos seremos na lei imperativa
Que em verbo torna a carne fraca,
Fé professa nesses jocosos pés.

8 comentários:

  1. Está bonito sim sr! :)

    Não posso deixar de notar o uso do sofrimento humano por motivos de lazer e/ou hobbie. Sempre me chocou os fotográfos que chegam à beira dos putos a morrer de fome e usam a sua imagem para seu próprio benefício. Just saying. :P

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  2. O meu somatório de tudo isto é......desprezo...

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  3. Desprezo? A única coisa minimamente parecida que aqui pus foi desespero, e ainda assim só devido a similaridade fonética...

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  4. Pensei que já tinha aclarado a que se devia esse meu sentimento de incomodo perante este texto que escreveste...

    Óptima escrita mas fico demasiado desagradado com o sentimento que me passa, a imagética religiosa e causa-me repulsão...
    A busca do humano numa resposta divina perante o que nos faz sentir pequeninos e insignificantes ou a nossa inacção é-me um completo absurdo e revolve-me o intimo. Mas aceita como cumprimento que tornaste algo que me deixa normalmente mais indiferente emocionalmente em algo que me atingiu a sensibilidade com a força de uma bala. Fora com a virgem e o mundo torna-se-me muito mais aceitável, soframos e desesperemos mas temo-nos a nós nas nossas pequenas mãos.

    E a maior ironia para mim foi notar pela primeira vez o manto de cor azul da virgem...por favor dispam-na e vistam cada um de nós com os seus retalhos(espero que tenhas percebido o que quero dizer).

    Desculpa, mas este não entra em mim...

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  5. Eu não consigo achar que a ideia não esteja lá... A minha intenção era exactamente demonstrar que a divindade, Virgem ou não, é apenas o suporte material que nos faz acreditar que somos capazes e destinados. Por isso nela se reúnem as virtudes teologais, que nos animam, carne fraca que somos...
    De certo modo as imagens que retirei pretendiam demonstrar isso. Apesar de todas as provações e horrores, a Humanidade continua a valorizar-se...

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  6. Mas a ideia está de facto lá... tivesse o texto associado uma figura mitológica que é considerada como algo ficcional e a minha alma estava descansada.

    "Virgem ou não, é apenas o suporte material que nos faz acreditar que somos capazes e destinados. Por isso nela se reúnem as virtudes teologais, que nos animam, carne fraca que somos"

    O que me perturba é exactamente o suporte material...a Virgem Maria não olha por nós. Foi feita a olhar PARA nós. Estática, inerte sem vida. Uma metáfora que muitos querem cegamente tomar à força como uma realidade. Que se reúnam as virtudes do homem no próprio homem e não numa humana deusificada.

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  7. Para mim a Virgem Maria e Afrodite são igualmente reais, ela serve só como exemplo daquilo que queremos ser e essa não é uma metáfora em que alguns crêem, é uma realidade.

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