sexta-feira, 26 de março de 2010

26.03.2010

Passou tempo, não sabia exactamente quanto. Foi por esta altura do ano, e a tua campa confirma-o. Quatro anos e poucos dias.
Há quatro anos e poucos dias desligaram-te as máquinas. Nada havia a fazer, era tão só o teu corpo e a nossa mágua…
No corredor da escola disseram-me que tinhas estado envolvido no acidente aparatoso do fim-de-semana que passara. Não parecia verdade, não contigo, tão bem disposto… ainda recordo as covinhas do teu sorriso, agora pequenas na cova do teu corpo. Ficaste um buraco, um medo, porque levaste contigo um pedaço da esperança.
Hoje, sob as varetas torcidas do guarda-chuva e o gotejar anunciado de Abril, voltei onde repousas e perguntei-me quantos de nós ainda te visitam. Alguns queriam que se colocasse uma foto da turma dentro do caixão. Não dava, já havia sido selado, e só tu sabias do alívio que senti, parecia-me tão macabro.
Em cima de ti está um livro de mármore, deixaram-to os teus padrinhos. Começa assim: “Tiago!”, e logo a voz da tua mãe ecoa nos meus ouvidos, as raparigas a chorar, desalmadas. Retraí-me, não sabia se seria adequado ou legítimo um rapaz chorar por ti também. O Carlos também chorava, era a desculpa de que precisava. Foi assim... juntamos na chuva as nossas lágrimas, os gritos reverberados, por ti envoltos nos farrapos cinzentos do céu onde por uns momentos de fervor te quisemos em paz, envolto o teu corpo nessa mortalha de esperança com que os vivos se separam da morte.
Deus queira que haja um céu, que o meu coração não dá para tanta alma, Tiago…