domingo, 3 de janeiro de 2010

Considerações sobre ele

Não, não é vergonha. Se saio para a rua travestido, ensanguentado num banho de lágrimas. Não é tristeza ou desespero, é a saudade que me crava o peito no passado. Não, não é mais do mesmo, não é drama, tão pouco negação, é morte que tomo aos fôlegos e me revolve as entranhas, esfaqueia a carne, a rima e a harmonia. Não sei não com que fio teceis a vida e a inspiração, mas o punhal é tão fundo, e fundo tão aberto o peito em que desperto neste leito, onde violado fui traído pelo presente, filho do passado, que degenerando afinal não era garantido. Choro.

Parece tudo hoje tão perene, e junto ao rio deito o corpo cansado, os olhos doridos, só morte me fala aos ouvidos, e não sei mais... ah não sei do amparo! quando o único conforto que tenho é a verticalidade das minhas paredes! Choro.

Cegasse-me o encanto e não soasse igual este pranto, estas palavras, por quem és! Prostrava-me escovando-te as botas, lavando-te os pés, e qual humilhação?!? De quem, de quem a verdade? É vergonha Senhor!? Aceitar a vida na metade, receber puro o substantivo morte, e reinar um trono de rosas quando não me desejas as chagas por inteiro!?
Matai-me agora, oh sim matai-me, Choro! mas Senhor, amai-me primeiro!