quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Daemo


http://www.youtube.com/watch?v=uFAI9b0GonQ


Terá ele, João, José, Jesus, encontrado uma porta para mais do que a fama? Terá tido o proveito de criança e tropeçado na derradeira verdade? Renato, do Latim, renascido.

Adivinhara Maria na garrafa sobre a mesa, traindo a adoração romana, carecida de católico apostolicismo, o nascimento da concorrência, por Botticelli? Baco sob a cortiça, senhor dos psicotropismos. Poéticas as badaladas, gotas de tempo no emergir da concha, suspiros de anjos como segundos, num crescendo orgásmico de quem percorre a nave até ao altar. O saca-rolhas, dramático como na ficção, no policial, distorcendo o tempo à sua volta.

Não haverá um telefone que posponha a acção.

As três Marias, parcas do jónico, do dórico e do presente, conciliam na fábrica de têxteis, mais uma dessas que está para fechar, o pano p'ra mangas do momento. Um velho morto, um miúdo fodido. A morte e o seu renome internacional, fama perpétua! Vem com o circo, como o de Afrodite e seus rebanhos lascivos, carentes no desejo de morbidez. O deleite que verte do seu peito pornográfico, velado porque é assim que tem de ser, como diz a receita: a curiosidade não mata o gato, dá-lhe alma.

Terá ele, Renato, amado com a consciência gravítica de uma Virgem? Terá exorcizado os demónios, calado as vozes, rasgado a tela e as inocências de quem na sala saltava na cadeira com a explosão de efeitos tridimensionais? A película desenrola-se e o telefone não toca, pedia-se à entrada que o desligassem por favor. O cheiro a fumo sufoca e navega a náusea do vinho, o pano arde a meio do acto para assombro do público e Sophie Ellis-Bextor repete Heartbreak Heartbreak Heartbreak até só se ouvirem os latejos... a corte celestial contando os segundos. Depois vêm os violinos, num crescente, num quarto de hotel, que fosse chinês ostentaria na fachada Golden Drama Moon.

Love, stop bringing me down, down, down...

"Renato!? Pareces burro caralho, que 'tás a fazer?"

Heartbreak, Heartbreak, Heartbreak...

Está cientificamente provado que a matéria dobra a malha do espaço - tempo, por isso já estão a ver os contornos licorosos da mesa em mogno torneando o saca-rolhas. É refrescante, já nem a criançada pode com o quebra-nozes, sempre a mesma história todos os invernos. Com o mesmo dramatismo que Leonardo pôs no tecto da capela, a mão avança de vértice indicador em riste. Consegue-se ainda ver o reflexo mortiço da luz da suite no relevo da unha...

Heartbreak makes me a killer, dancer
Keep my heart beating faster, faster
Love, stop getting me down, down, down...




"Toda a gente conjectura, mas suposições à parte, Renato, como é nascer outra vez?"