Rotinas e adiante. Há muito tempo que pisei a rima, pus os adjectivos fora, mandei tudo para o caralho. Por ferros se mata e morre, por isso a dopagem com carbono que faz do gume a espada é-te enterrada no dorso, e o azoto se propaga e endurece. Sou o colosso que não viste, a ninfa que busca e caça, Diana, Némesis, o peito e o cancro beijados que te berram na cara a raça! E um hipócrita; a minha frustração contudo é o grito nunca um dia branco, porque posso ser qualquer coisa, mas nunca tudo ao mesmo tempo. Eu marco mas não mato, circulo e interrogo, eclipso-me no foco trémulo da cela. A minha juba é ruiva, farta e bela no clarear novo de cada mentira. Eu olho mas não prendo, insinuo e mesmo não querendo, dispo a roupa sobre o palco e atiro-me na passadeira. E todas as voltas, rotinas, os depois, agora, para ontem e antes são sempre a mesma órbita, o mesmo perímetro redondo, o círculo, as cordas, a frequência e o comprimento de onda do rádio em que voas a náusea do longe. Entre nós para sempre as palavras, a verdadeira merda, soluto que nos mata, água régia, água forte, água da vida que te dissolve prata nos meus dedos perfeitos, dedos feitos fracos, falsas fêmeas, virgens de ouro. Hipócritas.
domingo, 11 de dezembro de 2011
domingo, 6 de novembro de 2011
A Noite no Outono
Quando morre o dia não há temor.
Guardo fundo um desejo, um segredo.
O dia há-de morrer e eu não tenho medo,
Não vejo escuro ou solidão
Porque a noite vem fria e o luar
É bálsamo nas ligas do meu coração.
Quando adormece o vento nas folhas, quando desliza o gato sibilante no jardim, abro as portadas de madeira e sai descalço o meu sonho na noite. Quão bom ficar deitado assim, deixar que o gelo se sinta amado, perceber a insignificância a todas as coisas. Gosto da noite porque tenho um segredo, um desejo de descanso... À noite não há vozes, não há homens, nem há o mundo. Só árvores e bichos na terra, só fabulas que a escuridão encerra e que esculpo na madeira. A sorte como o amor não se precisa inteira, porque um pequeno bafejo já promete infinito. À noite esqueço o significado à morte e já não sei o que é o tempo. Inspiro fundo o meu sonho, o relento, ficamos sobre o estrado entregue às estrelas. Nunca foi meu desejo tê-las, tocar-lhes saciando sede de infinito, porque não a tenho, não há essa vontade... Só te preciso largo, longe, tão distante. Não te conheço o rosto, por onde andas errante mas chega-me a tua promessa. À noite não preciso do teu amor, apenas saber que te sei amar. À noite só sei que nada sei e é quanto baste tudo o que sinto.
Guardo fundo um desejo, um segredo.
O dia há-de morrer e eu não tenho medo,
Não vejo escuro ou solidão
Porque a noite vem fria e o luar
É bálsamo nas ligas do meu coração.
Quando adormece o vento nas folhas, quando desliza o gato sibilante no jardim, abro as portadas de madeira e sai descalço o meu sonho na noite. Quão bom ficar deitado assim, deixar que o gelo se sinta amado, perceber a insignificância a todas as coisas. Gosto da noite porque tenho um segredo, um desejo de descanso... À noite não há vozes, não há homens, nem há o mundo. Só árvores e bichos na terra, só fabulas que a escuridão encerra e que esculpo na madeira. A sorte como o amor não se precisa inteira, porque um pequeno bafejo já promete infinito. À noite esqueço o significado à morte e já não sei o que é o tempo. Inspiro fundo o meu sonho, o relento, ficamos sobre o estrado entregue às estrelas. Nunca foi meu desejo tê-las, tocar-lhes saciando sede de infinito, porque não a tenho, não há essa vontade... Só te preciso largo, longe, tão distante. Não te conheço o rosto, por onde andas errante mas chega-me a tua promessa. À noite não preciso do teu amor, apenas saber que te sei amar. À noite só sei que nada sei e é quanto baste tudo o que sinto.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
#1
Este é oficialmente um blog sobre o quotidiano da pessoa Rx.
Então, hoje levantei-me num espaço cartesiano e desloquei-me segundo vários vectores, (em) função de x, y e z. O primeiro wormhole que encontrei levou-me directamente às estrelitas do pequeno almoço, como não passei pela casa de partida não tive direito a gás. Tive de sair para o fresco da manhã e substituir a dita botija do.
Depois de lavado e vestido fui, como dizem as primas francesas, prender o bus. Algemei o retrovisor à paragem e exigi-lhe identificação, mas só depois de nele ter entrado e adormecido após cinco minutos em andamento. Não surpreendentemente, desconfio que já seja um hábito enraizado, o meu relógico biológico acordou-me trinta minutos depois, precisamente quando chegava à Universidade. Lá fui para o laboratório a pensar como é sempre bom não ser acordado por estranhos.
Tinha deixado durante a noite uma pastilha a cozer no forno (sim, na UMinho cozinha-se Haxixe e mandam-se ácidos no bar) que fui rapidamente buscar. Surpresa do dia, o vidro do forno que me deixaria ver a pastilha lá dentro tinha acordado um espelho! Fiquei atónito, não só pelo ocorrido como pelo reflexo da minha cara de aborto (Deus os tenha) mal acordado. Corri para o meu orientador. Ele veio, abriu a câmara, passou a unheca pelo vidro e a pelicula metalizada descascou logo. Trocamos algumas trivialidades, como os dias que têm estado bastante quentes e o mútuo desconhecimento do que poderia ter acontecido à abençoada pastilha (LSD, não Mebocaína!). Fiquei desolado, por isso fui fazer uma série de inútilidades como limpar a minha banca de trabalho.
Voltei para almoçar em casa. A tarde seria passada na Universidade também, mas no pólo bracarense. Gostava de ter tido o bom senso de ter almoçado em Guimarães pois a saída de casa foi mais uma vez atribulada (rotinas...). A minha mãe anda a controlar-me a fruta e insiste para que coma a sobremesa, embora repetidamente lhe diga que não é normal cá em casa só haver peças de fruta com mais de um decímetro cúbico. Pode parecer paranoia de engenheiro anorético, mas faz-me uma genuina aflição comer mais do que com os olhos. Ainda mais depois de uma manhã na universidade a conhecer caras novas... normal que estivesse de boca bastante cheia. Antes de conseguir sair, e porque o dia parecia destinado às figuras de autoridade, fiz de polícia sinaleiro do trânsito intestinal. Como nos filmes, é sempre nos momentos mais críticos que se apanha a famosa hora de ponta.
A tarde... tardinha, melhor coisa do dia <3! Fui parar a um caralho de um laboratório vaginal (toda uma antítese)! A húmidade e o calor eram insuportáveis. O ensaio, novo para mim, era uma seca e demorava colhões (conservemos o léxico)! A bolseira que me orienta arranjou a desculpa de algum material para lavar e deixou-me com um procedimento. Depois de me fartar das funções do programa decidi perder uns minutos com a vista, que não é nada má, já que a Universidade fica a uma cota relativamente alta da cidade. Quando me fartei da janela voltei ao PC, verifiquei que não tinha internet, felizmente, o banco onde me sentava era daqueles que dá voltinhas sem fim. Alegria de criança, fiz aquilo uma meia dúzia de vezes, olhos fechados para diminuir à náusea, quando me apercebo que a porta para o corredor está aberta. A situação. Tudo tranquilo, a única coisa que por ali passava era uma espécie de brasileiras invulgarmente baixas, provavelmente um vazamento numa cultura do departamento de biologia (sim, na Uminho realizam-se abortos e faz-se manipulação genética!)
Volto à janela. Bolseira (já sem a bata aborrecida, note-se) e amigas com cara de quem volta do lanchinho caminham em direcção ao edifício onde me encontro. Primeiro pensamento: U biAAtCH! Estava há um par de horas a morder-me pelo café&cigarro e a grandessíssima... (k)untz! Tranquilo, sou uma pessoa Zen, portanto de volta às voltinhas do banco (passo a redundância) (como continuo a achar que estou a transmitir ao leitor um ideia de ciclicidade, vou substituir o palavrão interior por um pi!). Devia estar com o ímpeto renovado porque me deu grande enjôo. Saí para o corredor e por esta altura ela já tinha subido os três andares. Perguntei-lhe de caminho onde era o WC naquele piso e lá me recompus.
Depois de tudo isto e com o ensaio a dar vários indícios de uma preparação manhosa (a dela!) resolvemos pospor a sua correcta execução para quinta-feira. Eu que me foda, a entrega da tese só é dia trinta e um deste mês!
Antes de ir para casa passei no centro comercial. Porque preferi estacionar numa rua próxima tive direito a arrumador, a quem acabei por dar vinte cêntimos como desculpa karmica para o facto de pseudo-ter-roubado um lugar de estacionamento. Ainda bem que não fiz questão de ter certezas, vou dormir muito melhor hoje.
Beijos,
A Prostituta.
Então, hoje levantei-me num espaço cartesiano e desloquei-me segundo vários vectores, (em) função de x, y e z. O primeiro wormhole que encontrei levou-me directamente às estrelitas do pequeno almoço, como não passei pela casa de partida não tive direito a gás. Tive de sair para o fresco da manhã e substituir a dita botija do.
Depois de lavado e vestido fui, como dizem as primas francesas, prender o bus. Algemei o retrovisor à paragem e exigi-lhe identificação, mas só depois de nele ter entrado e adormecido após cinco minutos em andamento. Não surpreendentemente, desconfio que já seja um hábito enraizado, o meu relógico biológico acordou-me trinta minutos depois, precisamente quando chegava à Universidade. Lá fui para o laboratório a pensar como é sempre bom não ser acordado por estranhos.
Tinha deixado durante a noite uma pastilha a cozer no forno (sim, na UMinho cozinha-se Haxixe e mandam-se ácidos no bar) que fui rapidamente buscar. Surpresa do dia, o vidro do forno que me deixaria ver a pastilha lá dentro tinha acordado um espelho! Fiquei atónito, não só pelo ocorrido como pelo reflexo da minha cara de aborto (Deus os tenha) mal acordado. Corri para o meu orientador. Ele veio, abriu a câmara, passou a unheca pelo vidro e a pelicula metalizada descascou logo. Trocamos algumas trivialidades, como os dias que têm estado bastante quentes e o mútuo desconhecimento do que poderia ter acontecido à abençoada pastilha (LSD, não Mebocaína!). Fiquei desolado, por isso fui fazer uma série de inútilidades como limpar a minha banca de trabalho.
Voltei para almoçar em casa. A tarde seria passada na Universidade também, mas no pólo bracarense. Gostava de ter tido o bom senso de ter almoçado em Guimarães pois a saída de casa foi mais uma vez atribulada (rotinas...). A minha mãe anda a controlar-me a fruta e insiste para que coma a sobremesa, embora repetidamente lhe diga que não é normal cá em casa só haver peças de fruta com mais de um decímetro cúbico. Pode parecer paranoia de engenheiro anorético, mas faz-me uma genuina aflição comer mais do que com os olhos. Ainda mais depois de uma manhã na universidade a conhecer caras novas... normal que estivesse de boca bastante cheia. Antes de conseguir sair, e porque o dia parecia destinado às figuras de autoridade, fiz de polícia sinaleiro do trânsito intestinal. Como nos filmes, é sempre nos momentos mais críticos que se apanha a famosa hora de ponta.
A tarde... tardinha, melhor coisa do dia <3! Fui parar a um caralho de um laboratório vaginal (toda uma antítese)! A húmidade e o calor eram insuportáveis. O ensaio, novo para mim, era uma seca e demorava colhões (conservemos o léxico)! A bolseira que me orienta arranjou a desculpa de algum material para lavar e deixou-me com um procedimento. Depois de me fartar das funções do programa decidi perder uns minutos com a vista, que não é nada má, já que a Universidade fica a uma cota relativamente alta da cidade. Quando me fartei da janela voltei ao PC, verifiquei que não tinha internet, felizmente, o banco onde me sentava era daqueles que dá voltinhas sem fim. Alegria de criança, fiz aquilo uma meia dúzia de vezes, olhos fechados para diminuir à náusea, quando me apercebo que a porta para o corredor está aberta. A situação. Tudo tranquilo, a única coisa que por ali passava era uma espécie de brasileiras invulgarmente baixas, provavelmente um vazamento numa cultura do departamento de biologia (sim, na Uminho realizam-se abortos e faz-se manipulação genética!)
Volto à janela. Bolseira (já sem a bata aborrecida, note-se) e amigas com cara de quem volta do lanchinho caminham em direcção ao edifício onde me encontro. Primeiro pensamento: U biAAtCH! Estava há um par de horas a morder-me pelo café&cigarro e a grandessíssima... (k)untz! Tranquilo, sou uma pessoa Zen, portanto de volta às voltinhas do banco (passo a redundância) (como continuo a achar que estou a transmitir ao leitor um ideia de ciclicidade, vou substituir o palavrão interior por um pi!). Devia estar com o ímpeto renovado porque me deu grande enjôo. Saí para o corredor e por esta altura ela já tinha subido os três andares. Perguntei-lhe de caminho onde era o WC naquele piso e lá me recompus.
Depois de tudo isto e com o ensaio a dar vários indícios de uma preparação manhosa (a dela!) resolvemos pospor a sua correcta execução para quinta-feira. Eu que me foda, a entrega da tese só é dia trinta e um deste mês!
Antes de ir para casa passei no centro comercial. Porque preferi estacionar numa rua próxima tive direito a arrumador, a quem acabei por dar vinte cêntimos como desculpa karmica para o facto de pseudo-ter-roubado um lugar de estacionamento. Ainda bem que não fiz questão de ter certezas, vou dormir muito melhor hoje.
Beijos,
A Prostituta.
sábado, 10 de setembro de 2011
Terrorismo
Existir é-me oculto pelo provinciano pretensiosimo de me dar ao veludoso luxo de pensar. Pensar nunca se me põe em causa, porque todos existimos. Advirto porém o leitor que o racionalismo deve ter capacidade autocrítica.
Posto isto falemos do 11 de Setembro e animais que se batem. Como a caça, a corça, o dorso de mulher. Mesmo as mentes mais argutas serão capazes de o ver, o dia em que o mundo novamente começa na tapada, onde o Rei caça com o seu corpo de cassadores a cassa grossa.
Na capela, distante da mais pequena insinuação dos disparos, Rainha e restantes damas confessam em sussuros o anseio de serem o futuro harem do Deus Cristo. Posto isto, posto isto...
A consequência do presente contrapõe novamente a existência de duas entidades opostas, orgânicas, pensantes. Ocidente vs. Obsoluto.
A política externa americana, passo a desapropriação do nome por parte de uma pequena parte dos efectivos americanos (ergo, Stati Uniti d'America), será no mínimo desastrosa. Uma presunção a desses Gentlemans do Novo Mundo, supor que fazem melhor aproveitamento dos recursos do planeta que os indígenas jamaicanos, certamente providos de muito mais erva e menos currículo que os judeus, mas naturalmente, igualmente respeitáveis. Se pensarmos que um terço do que circula nos meios de comunicação sobre a política externa dos E.U.A. são factos credíveis e, mais ou menos notoriamente, consumados, não é de estranhar o 11 de Setembro do ano de 2001 da graça do Senhor. Um dia que o Mundo passou colado à televisão, alheio do Sol que se esforçava por nos manter vivos, lá fora. Hoje é assim o mundo novo, sem tecnologia o tempo não passa, certamente por alguma distorção imprevista nos cálculos da célebre teoria de Einstein.
Os Aneis Borromeanos corporizam o Real, o Imaginário e o Simbólico. Vivemos no primeiro, adormecemos para o segundo, comunicamos com o terceiro. Comunicar, communicare, comungar... é algo que, ao contrário do que alguns possam pensar, não se faz só nos templos. O culto do comum é a língua do mundo. Se aqui vos confessasse, que sou a rameira de Deus, Teodora, a freira-puta que gere o melhor bordel da cidade, il Rosa Colta, certamente caíram na tentação de pensar que bato mal dos cornos. Ou que sou de uma imaginação digna d'il Pantheon, igualmente válido, o meu ego adora! Vocês julgam, eu julgo. Agora tu, agora eu. Pétala a pétala, brincadeira de crianças, como nos ensinaram. Já vos ocorreu fazer o contrário?
Os credos podem ser diferentes, e americanos combaterão terroristas para sempre enquanto as pessoas torcem o nariz a cowboys e alliens nas salas de cinema, com a sua melhor pokerface. Onde houver diferenças e escassear a tolerância, haverá necessariamente conflito, nem que seja ideológico. Os EUA sairam à rua encarnando os seus heróis da BD. Vêem o mundo aos quadrículos, como na BD, medem e ocupam as células que querem. Detorpam ângulos e parâmetros de rede, destroem a estrutura cristalina e levam um amorfismo destrutivo a vários povos. Em nome do Capitalismo? Democracia? Progresso? Ordem? Quem manda em quem? Parece-vos solução a Leoa faminta? A Águia farta?
Todos os que nascem amanhã já não se identificarão connosco, serão vergados pela inércia da cada vez maior massa que não quer saber de si própria, mas que espezinha a sua ínfima parte. A prepotência será combatida com a revolução e o desespero, com morte e violência desmedida. Depois da tempestade a bonança, a água a todos para sarar feridas, porque o crude não durará para sempre.
Posto isto? Porquê o sangue de cristo? Hitler ruge da cruz onde foi pregado "Niemand ist perfekt!", como quem diz "Ninguém é perfeito!"... mas cada um de nós, à sua muito própria maneira, faz por pensar que anda lá perto.
domingo, 4 de setembro de 2011
Pretensões
Quando criei este blog não sabia exactamente ao que vinha. O que se passou entretanto foi que vim, fui e voltei já um par de vezes. Gostava de saber se vale a pena continuar, e se bem me conheço, pode haver aqui um paralelismo perigoso não completamente alheio à minha vida, por isso gostava de algum retorno de eventuais leitores, sob risco de me suicidar, literariamente dizendo.
Atenciosamente,
A Prostituta.
domingo, 1 de maio de 2011
Psicologia Poema Inverso
Inevitável lembrar-me de ti. Me lembrar de ti.
Fugir à órbita dos espelhos. Corredores cuidados, velhos.
Inevitável a lembrança, eco reflectido, a sombra que não vi.
Me lembrar de ti. Estatuetas, bustos gastos, cuidados.
Quando me lembro não é exactamente lembrar-me.
Inevitável é sempre o sujeito. Como se existir fosse orbitar, essencial, fatídico.
Quando me lembro é o meu reflexo no ócio de um cigarro, à esquina, esperando que eu passe, como se tocasse no ombro... Oh e quando toca, como se estendesse a primeira pessoa, memória que se faz carne. Me lembrar nunca será de nada mais para além de mim, o que inevitavelmente implica seres meu, concluo.
Fugir à órbita dos espelhos. Corredores cuidados, velhos.
Inevitável a lembrança, eco reflectido, a sombra que não vi.
Me lembrar de ti. Estatuetas, bustos gastos, cuidados.
Quando me lembro não é exactamente lembrar-me.
Inevitável é sempre o sujeito. Como se existir fosse orbitar, essencial, fatídico.
Quando me lembro é o meu reflexo no ócio de um cigarro, à esquina, esperando que eu passe, como se tocasse no ombro... Oh e quando toca, como se estendesse a primeira pessoa, memória que se faz carne. Me lembrar nunca será de nada mais para além de mim, o que inevitavelmente implica seres meu, concluo.
quarta-feira, 30 de março de 2011
Voto de Casamento
O fruto proíbido é o mais apetecido, então invadi o teu espaço para ouvir uma música. Parecias diferente mas afinal confirma-se única. Aparente a contradição de quem te quer pela mão, dar de comer aos bichos na praça, tomar o perfil à populaça e soprar-lhe ouro frio ao pescoço. Se caminho alto é porque posso, porque peço, ajoelho e faço, não é qualquer um que me tem pelo braço, na miséria e na desgraça. Assim lado a lado eu e tu bem fodidas, duas putas acabadas... mas bem sucedidas.
domingo, 27 de março de 2011
Maçãs
Da inveja, da maldade e fome.
Certa tarde, perdida há muito por quase todos, veio cá a casa uma senhora, amiga e colega da minha mãe. Iam fazer um trabalho para Latim, frequentavam-no na Católica, sobre a mesa redonda de toalha verde. Pela mão da dita, veio a filha, um pouco mais nova que eu, na altura com quatro ou cinco anos. Já não sei se brincamos, não me lembro de muito, tirando o Outono no jardim.
Pela hora do lanche a minha mãe descascou-me uma maçã. Surpreendeu-me com metade apenas, deu o restante à menina.
Saímos para o jardim, onde à data crescia uma parede de cedros altos a obscurecer o espaço. Àquela luz o musgo pareceu-me mais molhado e por algum motivo a maçã mais minha. Não sei o que pensei, se por ter sido a minha mãe a descascá-la, como me aproximei, levantei a mão, e num gesto feio lhe deitei um quarto por terra. Pela cara deitaram-se-lhe as lágrimas, escorrendo ao ritmo da humidade nas paredes, e no quarto, me deito hoje com a mesma abundância a cair-me dos olhos.
Mater mea mala burra est, mas o pecado, esse, foi meu, em todo o horror daquelas coisas que sentimos que nos mudam.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Daemo
http://www.youtube.com/watch?v=uFAI9b0GonQ
Terá ele, João, José, Jesus, encontrado uma porta para mais do que a fama? Terá tido o proveito de criança e tropeçado na derradeira verdade? Renato, do Latim, renascido.
Adivinhara Maria na garrafa sobre a mesa, traindo a adoração romana, carecida de católico apostolicismo, o nascimento da concorrência, por Botticelli? Baco sob a cortiça, senhor dos psicotropismos. Poéticas as badaladas, gotas de tempo no emergir da concha, suspiros de anjos como segundos, num crescendo orgásmico de quem percorre a nave até ao altar. O saca-rolhas, dramático como na ficção, no policial, distorcendo o tempo à sua volta.
Não haverá um telefone que posponha a acção.
As três Marias, parcas do jónico, do dórico e do presente, conciliam na fábrica de têxteis, mais uma dessas que está para fechar, o pano p'ra mangas do momento. Um velho morto, um miúdo fodido. A morte e o seu renome internacional, fama perpétua! Vem com o circo, como o de Afrodite e seus rebanhos lascivos, carentes no desejo de morbidez. O deleite que verte do seu peito pornográfico, velado porque é assim que tem de ser, como diz a receita: a curiosidade não mata o gato, dá-lhe alma.
Terá ele, Renato, amado com a consciência gravítica de uma Virgem? Terá exorcizado os demónios, calado as vozes, rasgado a tela e as inocências de quem na sala saltava na cadeira com a explosão de efeitos tridimensionais? A película desenrola-se e o telefone não toca, pedia-se à entrada que o desligassem por favor. O cheiro a fumo sufoca e navega a náusea do vinho, o pano arde a meio do acto para assombro do público e Sophie Ellis-Bextor repete Heartbreak Heartbreak Heartbreak até só se ouvirem os latejos... a corte celestial contando os segundos. Depois vêm os violinos, num crescente, num quarto de hotel, que fosse chinês ostentaria na fachada Golden Drama Moon.
Love, stop bringing me down, down, down...
"Renato!? Pareces burro caralho, que 'tás a fazer?"
Heartbreak, Heartbreak, Heartbreak...
Está cientificamente provado que a matéria dobra a malha do espaço - tempo, por isso já estão a ver os contornos licorosos da mesa em mogno torneando o saca-rolhas. É refrescante, já nem a criançada pode com o quebra-nozes, sempre a mesma história todos os invernos. Com o mesmo dramatismo que Leonardo pôs no tecto da capela, a mão avança de vértice indicador em riste. Consegue-se ainda ver o reflexo mortiço da luz da suite no relevo da unha...
Heartbreak makes me a killer, dancer
Keep my heart beating faster, faster
Love, stop getting me down, down, down...
"Toda a gente conjectura, mas suposições à parte, Renato, como é nascer outra vez?"
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