Da inveja, da maldade e fome.
Certa tarde, perdida há muito por quase todos, veio cá a casa uma senhora, amiga e colega da minha mãe. Iam fazer um trabalho para Latim, frequentavam-no na Católica, sobre a mesa redonda de toalha verde. Pela mão da dita, veio a filha, um pouco mais nova que eu, na altura com quatro ou cinco anos. Já não sei se brincamos, não me lembro de muito, tirando o Outono no jardim.
Pela hora do lanche a minha mãe descascou-me uma maçã. Surpreendeu-me com metade apenas, deu o restante à menina.
Saímos para o jardim, onde à data crescia uma parede de cedros altos a obscurecer o espaço. Àquela luz o musgo pareceu-me mais molhado e por algum motivo a maçã mais minha. Não sei o que pensei, se por ter sido a minha mãe a descascá-la, como me aproximei, levantei a mão, e num gesto feio lhe deitei um quarto por terra. Pela cara deitaram-se-lhe as lágrimas, escorrendo ao ritmo da humidade nas paredes, e no quarto, me deito hoje com a mesma abundância a cair-me dos olhos.
Mater mea mala burra est, mas o pecado, esse, foi meu, em todo o horror daquelas coisas que sentimos que nos mudam.
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